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A ideia de felicidade sempre foi algo subjetivo, pessoal e íntimo. No entanto, na sociedade contemporânea, esse conceito foi deturpado e transformado em uma estratégia cuidadosamente arquitetada para alimentar o sistema atual. A felicidade, que deveria ser uma experiência autêntica e interna, se tornou um produto, uma meta que só seria alcançada através do consumo.
Hoje, ser feliz parece depender do "ter" e do "ser". O "ter" refere-se a aquisição de bens materiais — sejam roupas, dispositivos eletrônicos, como o celular, por exemplo, automóveis, ou viagens para destinos que são massivamente promovidos por mídias e influenciadores. Esses desejos não nascem espontaneamente no indivíduo: são implantados e reforçados constantemente, ditando aquilo que deve consumir para se sentir realizado.
Por outro lado, o "ser" envolve o status social — as ocupações, atividades e perfis que conferem reconhecimento e privilégios no ambiente em que se vive. A profissão de sucesso, o estilo de vida admirado, a imagem projetada nas redes sociais: tudo isso passa a ser um critério para validar a própria existência e, consequentemente, a própria felicidade.
A maneira como o sistema atual é conduzido, necessita que essa busca nunca tenha fim. Assim, modas e tendências são criadas e descartadas em ritmo frenético, obrigando o indivíduo a uma corrida interminável por novidades. O "novo" se torna sinônimo de felicidade momentânea, rapidamente substituída por uma nova promessa de realização. Nesse ciclo vicioso, a felicidade não é um estado alcançado, mas um produto inalcançável que move o consumo incessante.
Essa manipulação é sutil e começa desde a infância, através de desenhos animados, brinquedos e publicidades que formatam desejos e expectativas. Na vida adulta, esses condicionamentos se perpetuam de forma tão sofisticada que o indivíduo acredita estar fazendo escolhas livres, sem perceber o grau de influência externa que o conduz.
Enquanto isso, a verdadeira fonte de felicidade — o afeto, a cooperação, o contato com a natureza, a ajuda ao próximo e o cultivo de relações genuínas — é ofuscada. Esses gestos simples, que promovem bem-estar autêntico e coletivo, são desvalorizados em favor da satisfação individualista e efêmera que o consumo promete.
Em um mundo que dita o que consumir para ser feliz, resgatar a simplicidade e a solidariedade pode ser um ato de resistência. Felicidade não é um produto que se compra: é uma experiência que se constrói, principalmente, fora dos limites do mercado.