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A despedida do Papa Francisco, falecido em 21 de abril de 2025, reuniu milhares de fiéis na Basílica de São Pedro. Mas o que era para ser um momento de luto e reverência acabou sendo palco de uma polêmica mundial: a atitude de várias pessoas que tiraram selfies diante do caixão exposto publicamente.
As imagens viralizaram, gerando críticas de religiosos, autoridades e internautas ao redor do mundo. A comoção não veio apenas pela quebra de protocolo, mas por aquilo que essa atitude revela sobre o comportamento humano em nossa sociedade digital. A resposta pode estar em uma das camadas da Pirâmide de Maslow: a necessidade de reconhecimento.
Segundo essa teoria clássica da Psicologia, uma vez saciadas as necessidades mais básicas — fisiológicas, de segurança e sociais, o ser humano passa a buscar validação externa, o desejo de ser valorizado, admirado, notado. Estar em um lugar exclusivo, diante de uma figura histórica como o Papa, pode acionar esse impulso natural de se destacar e "marcar presença". Por trás de uma simples selfie, muitas vezes se esconde uma tentativa de dizer: “Eu estive aqui. Eu faço parte disso. Eu sou importante.”
Esse comportamento também se conecta com a ideia da dualidade humana, como propõe o artigo “Dualidade despertada de acordo com o ambiente que a pessoa é cercada”. O ser humano abriga em si tanto aspectos voltados para o bem, como empatia e reverência, quanto para o ego, como vaidade e exploração de contextos sensíveis.
E o que define qual aspecto será ativado? O contexto social.
Em um cenário como o velório de uma figura global, repleto de imprensa, redes sociais e símbolos de exclusividade, o ambiente pode funcionar como um gatilho para que as pessoas ativem comportamentos voltados para a autopromoção, mesmo que isso viole códigos sociais de respeito e sensibilidade.
A busca por reconhecimento é legítima. Todos, em algum nível, desejamos nos sentir vistos, ouvidos, admirados. O problema surge quando essa necessidade torna-se desenfreada, desconectada do outro. Nesse contexto, o reconhecimento passa a valer mais que a empatia. O “registro único” diante do caixão se torna mais importante do que o silêncio compartilhado em homenagem. A presença se transforma em performance. E é exatamente aí que a crítica se intensifica: quando o ato de honrar o falecido cede lugar a tentativa de ganhar curtidas.
O episódio das selfies no velório do Papa Francisco é mais do que uma “gafe”. É um espelho do tempo e do contexto social em que vivemos. Um tempo em que, para muitos, a validação pública vale mais que o significado privado de um momento. Talvez a questão não seja simplesmente criticar os que tiraram as selfies, mas nos perguntarmos: o que o nosso ambiente está incentivando? O que valorizamos socialmente? E como podemos recuperar o equilíbrio entre ser visto… e ver o outro com respeito?
A dualidade está em todos nós. O que nos cabe é fazer escolhas conscientes — mesmo em tempos de redes sociais — sobre quem queremos ser diante do sagrado, do coletivo e da memória.